#19
Um dos principais fatores de
vendagem do livro de viagens inteiramente notável Guia do Mochileiro das Galáxia, além do fato de ser relativamente barato e de
trazer as palavras NÃO ENTRE EM PÂNICO em amigáveis letras garrafais na capa, é
seu glossário conciso e eventualmente preciso. As estatísticas relativas à
natureza geosocial do Universo, por exemplo, encontram-se habilmente colocadas
entre as páginas novecentos e trinta e oito mil, trezentos e vinte e quatro e
novecentos e trinta e oito mil, trezentos e vinte e seis; e o estilo simples em
que estão escritas deve-se em parte ao fato de os editores, tendo que cumprir um
determinado prazo de entrega, copiaram as informações do verso de uma caixa de
cereais para a refeição matinal, acrescentando algumas notas de rodapé para
evitar um processo baseado nas incompreensivelmente tortuosas leis de copyright
da
Galáxia.
É interessante lembrar que mais
tarde um editor mais astuto enviou o livro de volta no tempo, e acionou com
sucesso a companhia de cereais por infringir as referidas leis.
Eis um exemplo:
O Universo — algumas
informações para ajudá-lo a viver nele.
1 — Área: Infinita
O Guia do Mochileiro das Galáxias oferece a seguinte definição para a palavra
"Infinito":
Infinito:
Maior que a maior de todas as coisas e mais um pouco. Muito maior que isso, aliás,
fantasticamente imenso, de um tamanho totalmente estonteante, um verdadeiro
tamanho tipo "puxa, como é grande!". O infinito é tão grande que em
comparação a ele a própria grandeza parece uma titica. Gigantesco multiplicado
por colossal multiplicado por exorbitantemente enorme é o tipo de conceito a que
estamos tentando chegar.
2 — Importações:
Nenhuma.
É impossível
importar coisas para uma área infinita, pois não há exterior de onde importá-las.
3 — Exportações:
Nenhuma.
Vide Importações.
4 — População:
Nenhuma.
Sabe-se que
há um número infinito de mundos, simplesmente porque há um espaço infinito para
que os haja. Todavia, nem todos são habitados. Assim, deve haver um número
finito de mundos habitados. Qualquer número finito dividido pelo infinito é tão
perto de zero que não faz diferença, de forma que a população de todos os
planetas do Universo pode ser considerada igual a zero. Daí segue que a população
de todo o Universo também é zero, e que quaisquer pessoas que você possa encontrar
de vez em quando são meramente produtos de uma imaginação perturbada.
5 — Unidades
Monetárias: Nenhuma.
Na realidade
há três moedas livremente correntes na Galáxia, mas nenhuma delas conta. O Dólar
Altairiense entrou em colapso recentemente, a Baga Flainiana só é intercambiável
por outras Bagas Flainianas, e o Pu Trigânico tem seus próprios problemas muito
específicos. Sua taxa de câmbio de oito Ningis por cada Pu é bastante simples,
mas como cada Ningi é uma moeda triangular de borracha de seis mil e oitocentos
quilômetros de lado, ninguém jamais as juntou em número suficiente para possuir
um Pu. Ningis não são moedas negociáveis, porque os Bancos Galácticos
recusam-se a lidar com trocados. Partindo-se dessa premissa básica, é muito
simples provar que os Bancos Galácticos também são produto de uma imaginação
perturbada.
6 — Arte: Nenhuma.
A função da
arte é portar o espelho da natureza, e simplesmente não existe um espelho que
seja grande o bastante — vide ponto um.
7 — Sexo: Nenhum.
Bem, para
dizer a verdade tem uma porção, amplamente devido à total falta de dinheiro,
comércio, bancos, arte ou qualquer outra coisa que pudesse manter ocupadas
todas as pessoas não-existentes do Universo.
Todavia, não
vale a pena embarcar numa discussão sobre isso porque seria terrivelmente
complicada. Para maiores informações veja os capítulos do Guia de
números sete, nove, dez, onze, catorze, dezesseis, dezessete, dezenove, vinte e
um e oitenta e quatro inclusive, e a bem da verdade quase todo o resto do Guia.
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