31 de jul. de 2013

O Restaurante No Fim Do Universo


#19

Um dos principais fatores de vendagem do livro de viagens inteiramente notável Guia do Mochileiro das Galáxia, além do fato de ser relativamente barato e de trazer as palavras NÃO ENTRE EM PÂNICO em amigáveis letras garrafais na capa, é seu glossário conciso e eventualmente preciso. As estatísticas relativas à natureza geosocial do Universo, por exemplo, encontram-se habilmente colocadas entre as páginas novecentos e trinta e oito mil, trezentos e vinte e quatro e novecentos e trinta e oito mil, trezentos e vinte e seis; e o estilo simples em que estão escritas deve-se em parte ao fato de os editores, tendo que cumprir um determinado prazo de entrega, copiaram as informações do verso de uma caixa de cereais para a refeição matinal, acrescentando algumas notas de rodapé para evitar um processo baseado nas incompreensivelmente tortuosas leis de copyright da Galáxia.

É interessante lembrar que mais tarde um editor mais astuto enviou o livro de volta no tempo, e acionou com sucesso a companhia de cereais por infringir as referidas leis.

Eis um exemplo:
O Universo — algumas informações para ajudá-lo a viver nele.

1 — Área: Infinita
O Guia do Mochileiro das Galáxias oferece a seguinte definição para a palavra "Infinito":
Infinito: Maior que a maior de todas as coisas e mais um pouco. Muito maior que isso, aliás, fantasticamente imenso, de um tamanho totalmente estonteante, um verdadeiro tamanho tipo "puxa, como é grande!". O infinito é tão grande que em comparação a ele a própria grandeza parece uma titica. Gigantesco multiplicado por colossal multiplicado por exorbitantemente enorme é o tipo de conceito a que estamos tentando chegar.

2 — Importações: Nenhuma.
É impossível importar coisas para uma área infinita, pois não há exterior de onde importá-las.

3 — Exportações: Nenhuma.
Vide Importações.

4 — População: Nenhuma.
Sabe-se que há um número infinito de mundos, simplesmente porque há um espaço infinito para que os haja. Todavia, nem todos são habitados. Assim, deve haver um número finito de mundos habitados. Qualquer número finito dividido pelo infinito é tão perto de zero que não faz diferença, de forma que a população de todos os planetas do Universo pode ser considerada igual a zero. Daí segue que a população de todo o Universo também é zero, e que quaisquer pessoas que você possa encontrar de vez em quando são meramente produtos de uma imaginação perturbada.

5 — Unidades Monetárias: Nenhuma.
Na realidade há três moedas livremente correntes na Galáxia, mas nenhuma delas conta. O Dólar Altairiense entrou em colapso recentemente, a Baga Flainiana só é intercambiável por outras Bagas Flainianas, e o Pu Trigânico tem seus próprios problemas muito específicos. Sua taxa de câmbio de oito Ningis por cada Pu é bastante simples, mas como cada Ningi é uma moeda triangular de borracha de seis mil e oitocentos quilômetros de lado, ninguém jamais as juntou em número suficiente para possuir um Pu. Ningis não são moedas negociáveis, porque os Bancos Galácticos recusam-se a lidar com trocados. Partindo-se dessa premissa básica, é muito simples provar que os Bancos Galácticos também são produto de uma imaginação perturbada.

6 — Arte: Nenhuma.
A função da arte é portar o espelho da natureza, e simplesmente não existe um espelho que seja grande o bastante — vide ponto um.

7 — Sexo: Nenhum.
Bem, para dizer a verdade tem uma porção, amplamente devido à total falta de dinheiro, comércio, bancos, arte ou qualquer outra coisa que pudesse manter ocupadas todas as pessoas não-existentes do Universo.

Todavia, não vale a pena embarcar numa discussão sobre isso porque seria terrivelmente complicada. Para maiores informações veja os capítulos do Guia de números sete, nove, dez, onze, catorze, dezesseis, dezessete, dezenove, vinte e um e oitenta e quatro inclusive, e a bem da verdade quase todo o resto do Guia.


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